Escritor. Independente.Livre.
Tinha dito que não saía do lar do Príncipe Real. Afinal, enganou-se. Vive com o seu filho.
Um gajo também se engana! A vida nos lares é uma espécie de regimento. Horários. E mais horários. E eu estive em três. O pior era a convivência com os moribundos e as moribundas. Deprimente. Os tipos iam buscar os velhos às camas e espetavam com eles num buraco a que chamavam sala do convívio. Qual convívio? Convívio nenhum! Velhotes com os olhos fechados e outros que estavam nas últimas. Ah... e havia um animador que se punha a contar de um até ao número dez. Quando a gente pensava que o tipo ia fechar a goela, desatava a dizer a numeração em forma decrescente. Ele fazia coisas incríveis! Mandava pôr a mão para cima, para trás, para os lados. Eu sei lá. O último lar era muito mau. Tinha lá uma mulata que era cleptomaníaca. Roubou uma velha muito afanada e eu também fui roubado.
O Luiz é que não está nada afanado...
Eu não estou afanado? A miúda deve estar a brincar! Eu não estou nada bem. Tenho muitas doenças, talvez umas vinte e três. Agora tenho uma m. chamada incontinência. Para um gajo é muito mau andar de fraldas. Mas a vista é a pior das mazelas.
Se fosse menos teimoso já tinha sido operado.
Não conte com isso! Tenho medo. E não é da anestesia. Medo das consequências. A merda da operação pode provocar um acidente cardiovascular e já viu o que era? Dizem que é coisa muito simples, mas isso são conversas. Nessa eu não caio!
Voltar a ler não é um estímulo?
Oh miúda, eu já li muito. Nem queira saber o que eu já li. Agora é a minha filha que me lê os artigos de jornais e algum livro que eu queira ler. Ocupo o raio do tempo a ver a RTP Memória. Estou a ver coisas que nunca tinha visto. Como por exemplo, o Júlio Isidro, o Zip-Zip. Gosto de ver velhadas. Entretenho-me com o humor fabuloso do Vasco Santana, do António Silva. O Solnado é uma merda. Uma invenção. Um disparate. O Herman José é diferente. Basta ser de origem alemã para saber o que está a fazer .
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Era amigo de Cesariny?
Essa pergunta traz água no bico. Dizem que nós éramos amantes. Um disparate. O gajo não fazia o meu género. Eu nunca tive a mania de Paris. Ele tinha.
Em entrevista ao Correio da Manhã que retirei
daqui
Bom dia
Há 3 horas
3 comentários:
ah, o gande pacheco! o maldito! o proscrito! anarca de espírito, atitudes e escrita.
um gajo do caraças, incluindo na sua loucura (às vezes muito pouco saudável!!)
qd e onde vi um belissimo doc sobre ele? rtp2? no ano passado?
boa escolha para o 1º de maio, cs!!!
sem-se-ver
uma grande entrevista né?
eu achei...um homem que vive quase na miséria. é assim neste País, ou se calhar em todos. A genialidade nem sempre é compensada.
:)
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