quarta-feira, 31 de outubro de 2007


"PARAÍSO"


Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.


Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!


Depois, podes partir. Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...


Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.


David Mourão-Ferreira,
in "Infinito Pessoal" (1959-1962)
(1 de Novembro de 2007)

1 comentário:

Anónimo disse...

que paraíso tão bem sentido!

bj

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