quarta-feira, 6 de junho de 2007

Cadernos "Diálogo"

As Palavras amadurecem, 2 poemas de Simeão Cachamba

Xikalamidade

Se um dia me viste a vagar as ruas da cidade
(qual molweni atribulado na sua vagabundagem)
o corpo constelado de remendos, quase seminu
todavia por todos poros respirando dignidade
hás-de me ver hoje envolto em nova embalagem
caso cruze denovamente a mesma esquina com tu
Não me pergunte o raio por que deixava eu esta
indumentária envelhecer lá bem no fundo do baú
Um pouco de bom-senso e apenas dois dedos de testa
e saberás que ninguém grama de andar com o corpo nu
Se antes de minhas foram alguém que eu desconheço
estas <> coçadas que ao meu corpo se ajustam bem
como se feitas por encomenda, com as medidas que eu meço
é porque em estado natural sempre iguais são os homens

polana/85




Xirico

domesticadas asas estrebucham
o ancestral sonho sitiado que
a exiguidade geométrica da gaiola calca
enquanto ouvimos rádio na sala de estar
dura um instante infinitesimal a pausa do locutor
e nesse vazio
breve
oportuno
subversivo o pássaro entoa as cores do arco-íris
os sons fluem em cascata através dos arames
e estacam na sala
- vá tu saber se o bicho está triste ou alegre"


(XIKALAMIDADE: Xipamanine - mercado onde se vende grande quantidade de Calamidade - roupas doadas para os países do terceiro mundo, e que neste são comercializada)
retirado daqui

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