sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Daniel de Sá

tropecei com o nome de Daniel de Sá aqui
(na caixa de comentários deste post)


Natália Correia
(A propósito de uma homenagem à autora, na qual foi libertada uma pomba e depositado um ramo de flores em sua memória)

AO AMOR

A ilha me perdeu, sou de nenhuma.
Saudade-amor de mim, pedra que móis
Meu trigo que ceifei por outros sóis
Onde o suor não se evapora em bruma.

Sou valquíria que escolhe os seus heróis.
Minha paixão sou eu. Não me consuma
Outra paixão, amor. Bebo uma a uma
As gotas do veneno com que dóis.


Se as ilhas fossem gente, eu era o Pico,
De coração só feito de mistérios
E os longes das paisagens onde fico.


Das arribas do ser, a vida tomba
E os amores do Amor a morte fere-os.
Não libertem por mim nenhuma pomba.


AUTO-RETRATO ALEXANDRINO

Eu nunca fui na vida, eu nunca fui menina:
Impura sim. Eu sou a imaculada impura.
Não vesti tafetás nem chitas de candura
Nem quis vencer jamais esta invencível sina.

Foi sã minha poesia, e foi também perjura
Como uma flor-de-lis entre ascos de latrina.
Cantei ainda cedo a loa vespertina.
Se há Deus, vou-Lhe a caminho, e sinto-me segura.

Por ódio ou por amor, chamem-me louca ou bela.
Sinto a inveja e o ciúme em modos de homenagem:
Se tenho de aceitá-la, eu não me nego a ela.

Fui rainha de mim, de versos e de prosas,
E só a mim também honrei em vassalagem.
Cada espinho que fere é um sinal de rosas.

Daniel de Sá

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